terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Esperanser

Eu vi chegar

A esperança ali na esquina

Ela estava travestida de rima

Na poesia dos encontros coloridos

Nos sorrisos infantis,

Nas brincadeiras de outrora

Na tecnologia de agora

 

Eu vi a esperança linda

E estava vestida de escola

Decolando mente amiga

Debulhando a história

Refletindo o hoje

Nos brilhos incandescentes do corpo discente

Na humildade dedicada do corpo docente

Eu vi a esperança sorrir para o doente

Dizendo com sua tela digital que a identidade é importante

Sacudindo a poeira

Jogando amarelinha

Convidando pra ciranda de energia inconteste

 

Eu vi a esperança gingando

Jogando no ar suas plumas de amor

Pra ser travesseiro de quem quer que for

Alimentando sonhos de esperança

Sementes crioulas

Cacimbas de luz

Vivas energias nas mãos dadas

Antirracistas

Antifascistas

Antisexistas

#ELENÃOELENUNCA

 

Na terra da esperança a vida brinca solta

Do jeito que a faz feliz

Sem ferir ninguém

A esperança vem nas escolas de educações críticas

De proposições libertadoras

Horizontais em sua construção

Horizontais em sua organização

Acolhendo quem chega

Descolonizando pensamento arcaico

Freireano as sementes

Adubando os Fanons

Enramando as Lélias

Com as seivas amefricanas

 

A esperança habita a educação

Enquanto nossas bússolas forem suleadas pelo amor

Solidariedade

Coletividade

Ancestralidade

Pelo Amor pela vida

Pela dignidade de toda e qualquer forma de vida

 

Marteluz de Jesus

O Educar Popular na Raça

 

Educar pela cor dos nossos olhos

Olhos estes que são janelas do mundo

São ainda as portas das nossas paisagens

E nas periferias, elas têm cores bem definidas

Como falar em educação popular sem localizar esta no povo?

Como localizar este povo sem ver sua raça?

Como ver sua raça e não reconhecer seu gênero?

As periferias são zonas marcadas pela negação do que diverge do centro

Centro social e forçadamente caucasiano, rico, hetero, cis, macho

E nas periferias, quem preenche este espaço?

Pra educar o povo tem que ver o povo por ele mesmo

Nós por quem somos

Quebrando os estereótipos

Rompendo com os brancos olhos

Superando as diversas alienações dos nossos povos

Pra entender as potencias e realizações que somos

No fazimento diário da construção da cidade

Da construção do campo

Educação Popular afroindígena

Entendendo nosso lugar nesta

Assumindo a oficialidade da nossa festa

A luz na nossa testa

Reconhecendo os limites próprios ao nosso percurso

Reconhecer a importância de que a questão de classe não é tudo

E assim, a educação popular

Por nascer da/na nossa realidade

Demanda fazer desta, o nosso currículo

O campo e a favela são os nossos livros vivos

Nossas anciãs e anciãos nossos doutores

Nossas vivências revelam muitos dos remédios das nossas dores

Precisamos reconhecer em nossas diferenças as nossas demandas e potencialidades

Fazer educação popular é ter que parir educação a partir da nossa realidade para além da questão de classe

É dentre outras coisas, refletir criticamente as questões que envolvem a construção da raça, do gênero, do território e da sexualidade.

É reconhecer o povo a partir de sua própria história, cultura, saberes e identidades!

 

Marteluz de Jesus

Educavida Popular

A educação popular é aquela que leva o povo pra dentro escola

E na escola conecta o povo com o resto do mundo

Este contato potencializa a consciência crítica sobre tudo

Sobretudo sobre a história

Sobre, sem sair de dentro

Assumindo-se dentro, sendo centro

Ela é ponte entre as periferias marginalizadas e o centro auto instituído

Ela assume o poder político do povo na própria existência e organicidade da sociedade

Centraliza no próprio povo suas demandas e provoca as construções de alternativas

Educação Popular é Viva!

Assume a vida dos seus como sua alma

Seu chão é sua essência

Sua memória é seu poema

Liberdade: o seu lema

E assim pega o leme e zarpa pra sair da lama

Da lama que nos botaram

De onde nossos ascendentes esbravejaram

E gritaram com tanta força

Que saíram de lá conosco nos braços

Reconstruindo o sentido do que estava instituído

Plantando as sementes dos cajueiros que somos

Das cajazeiras que somos

Do presente futuro que somos

A partir da educação popularmente construída

Diariamente por nossas rainhas

Na escola, associação, praça ou oficina

A Educação popular nos abre as portas pelos olhos das nossas mulheres e homens, meninos e meninas!


Marteluz de Jesus

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Banzo

 

Chamaram de banzo

A dor negra do desespero do adeus

Da desesperança de tudo o que era a Vida

Ver os seus amarrados a você por grilhões

Em estupros psíquicos contínuos que atingiram até a dimensão espiritual

E mesmo com tudo isso,

Ainda queriam que aceitássemos como normal...

 

Chamaram de banzo a dor da desgraça que nos causaram

E até hoje não se revisitaram.

 

Marteluz de Jesus

sábado, 13 de novembro de 2021

Caminhos em Cruzilhadas

 

CAMINHOS EM CURZLHADAS

 

Eu cresci

Me vendo mulato

Mas na hora que queriam,

Eu era preto, e tinha q ficar calado.

Cresci sem entender

a razão daquelas expressões

Não me perguntava

Não fazia conexões

Não entendia

O peso histórico da cor das peles

Dos olhos

Dos cabelos...

Depois, tempos depois,

Entendi que havia um tal capital

E que tinha q ter pra ser genial

Achei q a questão central que me aprisionava no lugar de nada era minha pobreza

E mais uma vez a inocência me deixava de bobeira

Porque antes de ser pobre

Eu era preto

Mas sendo mulato, eu não entendia o a expressão do termo

...

Foi apenas tempos depois

Que compreendi que tudo tava costurado

Meu corpo estava todo marcado

O mundo antes de capitalista é racializado

Eu precisei entender isto pra me despir do que eu achava que eu era

Precisei me despir pra reconstruir novo ser

Renascer em nova relação racial

De gênero

De sexualidade

Precisei mexer em mim em cada parte

Pra renascer novo ser

Na contínua reconstrução do ser

Na contínua ressignificação do ser

Pra ser novo ser

Em encontro comigo

Posicionamento crítico no mundo

E vc?

Já nasceu pronto?

Se não, quando despertou pra ser novo ser?


Marteluz de Jesus

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Corpo Copo Cheio pra Educação

Quem somos?

Quais sons somos?

Imagens, cheiros, silhuetas, tatos, tratos?

Ques corpos são estes?

Que, soltos na vida, amordaçam-se nos códigos?

Códigos sociais ativos

Em corpos ativos

Sujeitos muitas vezes cativos

Assujeitados aos vícios dos labirintos historicamente construídos

Culturas mil

Poder sobrepondo ao poder

Não existe espaço vazio

E é neste multicosmo de culturas diversas

Que versam as mentalidades atitudes

Produzindo o pensar-sentir-agir

Tão intuitivo e instintivo quanto atravessado de valores historicamente construídos

Por culturas diversas

Num multicosmo pluriversal

Onde preconceito e bem fazejo se dialogam e digladiam dia a dia

E neste dia a dia, enquanto mãos estendem mãos e erguem escadas firmes pra novas auroras amorosas

Outras tantas mãos tontas tentam por abaixo tudo o que é solidário provando ser otário o bondoso laço atado...

E  quem seria otário mesmo?

É neste espaço conflituoso

É neste território dinâmico e muitas vezes impiedoso

Que a educação erige como caminho inevitável, pois ela é inerente ao ser humano!

A grande questão então não é a quem educar, mas sim o que e para quem educar.

Destarte, em toda parte é primaz pensar o lugar deste corpo

Destes corpos

Corpo copo

Transbordando histórias milenares

Cheio de sentidos

Desejos

Medos

Seres

Entidades

Instituições

Racionalidades

Corações

Possibilidades

Negações

Construções

Reconstruções

Significados

Significantes

Ressignificações

É...

Corpo complexo, holístico e indissociável de tudo o que ele simplesmente é

O corpo é do mundo

E do pó veio

Ao pó voltará

Alimentando o ciclo energético e material de tudo o que há!

 

Marteluz de Jesus


terça-feira, 28 de setembro de 2021

De trás pra frente

De trás pra frente

Na sombra fria, sem luz quente

A sensação é de torpor

Enquanto o estrago acontece

O câncer recrudesce

O ar falta...

(não consigo respirar)

Estes anos duros relembram o chumbo:

Pesado

Cancerígeno

E que amarrado ao corpo, leva ao fundo do poço com velocidade e determinação...

É... parecem estar determinados com tanta devastação

Licença pra matar

Ordem pra queimar

Aval pra fazer laboratório em nossa gente

Com experimentos capitais cujos pecados, na fé divina, não prescrevem...

 

É...

Estávamos avançando tanto...

Preto na escola

Minorizado na cota

Investimentos na ciência

E dona Maria, teria teto pra repousar sua família e consciência!!!

Estávamos sentindo uma subida, ainda que lenta

Muita gente ainda lembra:

O salário crescia, ainda que um tiquinho

Oportunidades de emprego

Conquistas de direitos

Diálogos na construção de políticas públicas

Estávamos vislumbrando tempos outros

Em que nossos sonhos pudessem ser semeados

Como semente crioula, superando o passado

Com base na labuta da luta

No sabor da sabedoria dxs nossxs mais velhxs

Na beleza do sol, na força da lua...

 

Porém,

Entretanto, contudo e todavia

Vem o sistema bélico opressor

Armado com fakes, dando facadas

Fakeadas a todo vapor...

Achamos que simplesmente estancaríamos no tempo

Mas o projeto vai além do nosso pensamento

A ideia não é parar, é retroceder!

Retroceder décadas

Às custas da miséria

Fazendo das trevas, pilhérias

Desumanamente  corrompidos

Na retomada de projeto vil que nunca foi esquecido

 

O Marco Temporal é um exemplo concreto do retrocesso real

O dia D no Pantanal é outra marca desta fábrica do mal

As reformas trabalhistas são ponto fulcral

A PEC do fim do mundo pôs tudo no rumo do caminho mais obscuro

O racismo descaradamente assumido,

A misoginia desavergonhadamente assumida,

A LGBTfobia cruelmente assumida,

A constituição rasgada...

São passos podres de poderes torpes dos fascistas militares coloniais que respingam seus venenos nos olhares capitais das ditaduras socioculturais que nos alijam dia a dia

É muita dor, muita agonia

Ver o absurdo negacionista ser vomitado como verdade definitiva

É muito triste ver amigos e familiares seduzidos por esta anomalia...

 

Mas o tempo não para

A vida resiste

A gente persiste

Somos nascentes de rio furando a terra

Somos cacimbas Vivas prontas a saciar a sede

Somos o Adobe protegendo nossas crias

Somos abelhas fertilizando campos floridos

E estamos prontos pra defender nossas colmeias com as forças das nossas entranhas

Então, eles querem parar o tempo

Mas somos a engrenagem que não deixa a roda do tempo parar

Somos a ancestralidade fortalecida e fortalecendo o presente

Somos a força que vai parar este anacronismo governamental que anda de trás pra frente

Vamos trazer nossas históricas cosmovisões latentes

Em nossos corpos

Almas

Corações

Crianças

Idosxs

Amorosos

Recheadxs de Vida

Realizando nossos sonhos

Repletxs de energia pra ver novo alvorecer de dia


Marteluz de Jesus

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Frutos da Diversidade

Quais pontes somos?

Quantas pontes passamos?

Quantas pontes desejamos que nos acolham nas escolhas da escola da vida?

Quantas vezes os muros intransponíveis são superados com mãos esticadas lá do alto?

Quantas vezes não caímos no chão porque desabamos no colo de alguém?

Quantas vezes nem percebemos as lanternas que iluminaram nossos caminhos?


A educação é chão de zil mãos

E que deve acolher a todos atento às singularidades que atravessam a multidão

Inúmeras cores

Inúmeras dores

Atrizes e atores

Esperan-çar...


Ah...

Há muito a ser feito

E não há tempo pra negarmos a nós mesmos

Os nós que somos no outro enquanto espelho

Diferentes e iguais ao mesmo tempo

Talvez em momentos diferentes da vida

Mas somos todos os mesmos...


Com compreensões diferentes

Trilhas outras

Experiências e vivências distintas

Mas que não sejam a exclusão que nos aniquila

E sim a mão que na hora do muro nos ajuda

Nos acolhe

Nos ampara

Seca nossas lágrimas

Nos estressa para depois darmos risadas...

É verdade...

Por mais difícil que seja

Precisamos criar pontes

Especialmente nestes tempos sombrios

Em que o ódio é alimento arredio

Que nos põe em rédeas

Nos cega

Nos aliena

Nos mata...


Precisamos crer no povo

Amar a vida

E pela vida

Lutar para vê-la viva!

É fácil gritar viva à diferença

Difícil é viver quando ela é sentença

E então eu pergunto:

Há caminhos para que dois bicudos conversem sem se bicar?

Dá pra construir junto sem tentar se anular?

Dá pra ser novo mundo neste mundo em chamas?


Eu não sei...

Mas sei que toda vez que eu entro na escola

Eu rogo, mentalizo e peço às energias, ajuda para tentar

Tentar ouvir

Acolher

Dialogar

Sem matar o outro

Sem negar o outro

Ser ponte

Na caminhança desta vida estranha

Aprender com a diferença

Olhar a poética da diferença

E entender que meu jeito de ser deve aprender a conviver com seu jeito de ser

Entender que seu jeito de ser deve aprender a conviver com meu jeito de ser

Para a gente somar o ser

E ser humano na construção de novo ser

Novo ser humano

Menos bestial

Mais empático

Mais amoroso

Mais coletivo

Pra gente poder colher fruto gostoso

Às vezes amargo, mas nunca venenoso!


Marteluz de Jesus

sexta-feira, 23 de julho de 2021

ÁRVORE SOL

 

Um velho amigo me procurou

Me fez lembrar de coisas...

 

Um velho amigo me presenteou

Me fez sentir tão novo...

 

‘ntão voltei ao tempo do bufa

Viajei à Terra do Nunca...

 

Cascata

Lorota

Fofoca

A hora é agora

 

O rock

A praia

A viola

Villages afora

 

Eu renasci poesia...

 

Nós somos vívidas Árvores Sóis

Brotamos Frutos-Luzes!

 

Marteluz de Jesus

22721

CICLOS (TRANSIÇÃO Nº 2)

 

Tente olhar para si

Repousar em si mesmo

Vai buscar aí dentro

Os sinais nos segredos

 

Você traz bem aí

Sua cura e ferida

Que ecoam dia a dia

Nos encontros da vida

 

E você quer fugir

Mas não tem pr’onde ir

Vai culpar ‘mundo inteiro

‘té voltar a si mesmo

(...)

Com o avançar da hora

Você começa a perceber

O tecer da vida

O equilíbrio tem que haver

 

É o segredo do casulo

Do nascer ao por do sol

Aqui está tudo ligado

A meta é o Bem maior

 

Sem deixar ninguém pra trás

Suleados pelo Amor vivaz

(de quebrada)

 

Marteluz de Jeus

25621

terça-feira, 6 de julho de 2021

Seres Humanos

 

Humanos seres

Erramos sendo

Tentativa, erro e acerto

Em condicionamentos culturais

Seres de desejos, despejos e medos

Potências de ser

Etnocentrico ser

Ser humano ser

Mas afinal, o que é ser humano?

 

É ser amoroso?

Sensível?

Solidário?

Coletivo?

Não seria também ser animal?

Visceral, egoísta, instintivamente lutando por sobrevivência como melhor compreender esta necessidade?

 

Ser humano é diverso

É ser canhoto, destro e ambidestro

Não tenho respostas para a definição e nem para os limites do ser humano

Mas sei que é um ser cognoscente

E que por isso aprende

E que por isso pode mudar

E é por isso que sou educador

Pra ver o ser humano crescer

Superar sua besta

E defender a sobrevivência coletiva

Em favor de toda forma de Vida

 

Marteluz de Jesus

terça-feira, 25 de maio de 2021

Conversadeiras

Conversadeiras

Rendendo as ideias

Tecendo saberes

Como rendas adornadadas

Preparando vestes

Para mentes brilhantes

Conversando as vivências

Conversando as angústias

Coletivas conversas

Coletivizando as lutas

Construindo conversas construtivas

Alternativas para os obstáculos das lidas

Conversas Vivas

Aulas Vivas

Do alto dos Referenciais das nossas Vidas:

Nossas próprias histórias!


Marteluz de Jesus

segunda-feira, 8 de março de 2021

Manicômio Nacional, Lobotomia Geral

 

Num país manicômio

A educação é a lobotomia perfeita

E numa cena típica dos piores filmes de terror

Comemos nossos cérebros em bifes com recheio de fakenews


Neste assombroso cenário impensável anos atrás

O prêmio dos efeitos especiais vai para a grande mídia

Que malabaristicamente faz os jogos obscenos e pervertidos

Enganando aos lobotomizados voluntários

E, em meio aos aplausos dos negacionistas e terraplanistas

As hienas contam seus bilhões em nossos bugalhos

Neste escrachado cenário

Nós que tanto avisamos, somos chamados otário

Mesmo com as dezenas de milhares de mortes

Eles riem da nossa sorte...

É… tá complicado...

Onde estamos e para onde vamos?

 

Eu não tenho tudo o que eu quero

E pra ser sincero,

Tudo o que eu quero pode ser um risco.


Nem tudo o que eu quero é bom para todo mundo

E nem todo mundo poderá me dar o que eu quero


Nem tudo o que eu quero é o que eu preciso

E hoje, muito do que eu preciso eu nem tenho perto.


Por isso, preciso filtrar o que eu peço

Preciso me ligar no preço

Preciso ouvir as peças que colam comigo

Preciso respeitar quem não está no meu umbigo


É bamba a corda da luta num mundo tão diverso

Nem tudo o que se apresenta como asa nos faz voar

Neste complexo mundo em que vivemos

Em que as carências parecem ser a regra,

Quais passos daremos para fazer a escolha certa?


Marteluz de Jesus