terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Última Morda

A roupa é feita pro manequim

E quando você usa,

O sonho já não serve mais em ti

Mas você adapta ao seu desejo implantado

Porque se não, vai para o ralo

O plano vendido a prazo

Às custas da sua singularidade

Ao preço da sua necessidade

Nas prestações da sua Vida

Que cada vez mais só faz sentido

Na frente da vitrina.


Marteluz de Jesus 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O Poder da Ignorância

 O "Poder da Ignorância" é uma ideia que venho castelando há um tempo com um irmão. Penso que a ignorância não é não saber ou ausência de saber, mas sim um saber corrompido, que não se fundamenta, não encontra bases solidas na realidade, mas consegue ainda assim erguer uma super estrutura de "verdades" alienadas. Assim as pessoas se refugiam nessas verdades ignorantes e dão sentido às suas vidas, opiniões, construções subjetivas. destas subjetividades nascem as concretudes das ações. Daí a razão de ser do "Poder da ignorância", porque a ignorância mobiliza, articula e atua no plano concreto, por meio das racionalidades corrompidas, putrefas. Acontece que, assim como toda construção que não se firma no solo devidamente, a ignorância promove fissuras na estrutura e um dia a superestrutura cai. Muitos morrem, outros tantos se ferem. Vai merda pra todo o lado, pros ignorantes e pros que estavam por perto, até mesmo pros mais distantes. Eis então o contexto em que estamos, na berlinda por causa da ignorância que está instalada e criando uma estrutura mega monstra... tenho medo de quando isto tudo tombar...

Marcelo Arouca 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

SONHOS AVES

Eu vejo urubus empoleirados

Do alto do cotidiano, esgueirados

Olhando lá pra baixo,

Cafungando,

Mandando seu exército

De soldados sem opções

Q pelas migalhas se esmigalham...


Eu sinto muito por tudo isso que somos 

Queria que seguissemos outros sonhos

E que este exército fosse de canarinhos

De cotovias, colibris, tico tico,

E que se rebelassem

E saíssem cantando com os sanhaços

Em sonhos altos materializados

Afugentando os urubus

Deixando o lobo nu

É... Eu sonho alto...

Mais alto do que os urubus empoleirados ...


_Marteluz de Jesus_

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

TRANSMODERNIDADE LOCAL (RESISTIR É EXISTIR – RE-EXISTIR)


A proposta de desenvolvimento moderno

Chegou aqui de forma errada

Distorcido o pensamento, a modernidade paira ainda hoje como uma alma penada

Assusta, interfere, coloniza e ataca.

A razão se corrompe

A certeza se impõe

A verdade se embebe de ilusões

E os sonhos, desejos e necessidades são inculcados como naturais na alma da mulher e do homem...

Assim, a máquina se retroalimenta

Do nosso sangue e suor

Nos acorrentando pelas mentes, sem dó.

E quando cremos estar pondo em prática nossos planos pessoais de vida

Estamos em plena manipulação, nas mãos da elite, pelos controles remotos dos discursos propagados pelas instituições e suas mídias...

 

E é assim que a modernidade chega

Sem pedir licença ela invade sorrateira

E a acolhemos inocentemente como se ela fosse coisa boa, faceira...

E ela se aninha em nossas casas

Se embebe de nossas mentes e bebe nossas mentes

E contaminas as raízes,

Corrói os valores ancestrais

Se diz a verdade justa e calculada mais e mais

E dissimuladamente define novas programações para nós

Desatando nossos nós históricos

Bagunçando as tradições

Individualizando-nos

Criando desordem em todas as direções...

 

Disfarçada de pós modernidade

No tobogã da contemporaneidade

Maquiando-se na globalização

Esta força ideológica e discursiva hegemônica chega aqui na favela, no sisal, no sertão.

Nos relega à barbárie

Nos diz inferiores

Criminaliza nossa estética

Demoniza nossas crenças

Nos coloca em uma escala evolucionista eurocentrada

E como, neste sistema não somos nada,

Nos oferecem a solução contra nós, julgam-nos nossa própria “praga”.

Aplicam em nossas terras suas soluções pensadas de fora

E por força do capital nos metem guela a baixo suas convicções

E dizem que temos que cortar na própria carne

Mas a carne cortada e vendida aos olhos vendados é sempre a nossa

E dizem que a nossa vez chegará,

Mas escondem que a nossa hora é sempre o agora.

 

E é do Local que a Periferia mundial tem gritado

É do Local que as nossas identidades tem se manifestado

É do Local que estamos transpassando esta modernidade

Continuamos plantando outras lógicas de Vida

Costurando nossas redes e bordando nossas chitas

Calcadas em nossas realidades

Mirando nossas demandas

Partindo das nossas ancestralidades

Resistindo à onda violenta homogeneizadora que nos aliena

Revelando alternativas presentes nas alteridades

Arraigadas na Ética da Vida

Fortalecendo nossas Bases

Trazemos as nossas próprias verdades

Berradas pelas vozes das nossas mudanças

Que arrombam as portas que nos separam das mesas de decisões.

São os movimentos sociais

São as sociedades tradicionais

É a sabedoria da Vida se manifestando Viva, dia após dia

Trazendo de dentro do sertão alternativas para o sertão

Fazendo renascer, aos olhos de quem achava morta, as culturas milenares que sempre nos conceberam a Vida!

Sustentando a Esperança

Florescendo a Esperança

Com pensamentos naturalmente sustentáveis

Com desenvolvimentos que deslocam a lógica do capital

Integrando o desenvolvimento científico ao social.

Dentro do “paradoxo da globalização”

Dialogando o local e o global reconhecendo a importância da alteridade na tradução

Respeitando o lugar de fala

E ouvindo desta, as suas experiências

E agregando com o que vem de fora

E levando para fora possibilidades novas.

 

E aqui lançamos nossas lagartixas trans na parede

Transmutando o mundo pelas consciências críticas e históricas

Perpetrando pela educação os caminhos necessários para a transformação

Transcendendo o moderno em diálogo direto com o tradicional

Somos nós fortes nas correntes do sul

A periferia jorrando epistemologia com nossas cosmologias multicores

 

Chega de colonização

Chega de auto denegação

Chega de tanta exclusão

O sistema replica a lógica colonizadora em novos esquemas.

Precisamos vencer esta estrutura com a estrutura das nossas raízes

Vamos reconhecer e valorizar quem somos

E assumir nosso papel ativo e crítico neste mundo de possibilidades

O desenvolvimento local sustentável depende do fortalecimento de nossa identidade

A partir de nossas experiências e sabedorias vivenciadas,

Pela Ética da Vida que Vive Viva em nossas mais lindas canções,

Na força do povo consciente de seus direitos e deveres pulsa a Vida

E como resposta às imposições de fora, vamos gritar bem alto o Alvorecer da nossa Aurora linda!!!

 

 

Marteluz de Jesus