terça-feira, 28 de setembro de 2021

De trás pra frente

De trás pra frente

Na sombra fria, sem luz quente

A sensação é de torpor

Enquanto o estrago acontece

O câncer recrudesce

O ar falta...

(não consigo respirar)

Estes anos duros relembram o chumbo:

Pesado

Cancerígeno

E que amarrado ao corpo, leva ao fundo do poço com velocidade e determinação...

É... parecem estar determinados com tanta devastação

Licença pra matar

Ordem pra queimar

Aval pra fazer laboratório em nossa gente

Com experimentos capitais cujos pecados, na fé divina, não prescrevem...

 

É...

Estávamos avançando tanto...

Preto na escola

Minorizado na cota

Investimentos na ciência

E dona Maria, teria teto pra repousar sua família e consciência!!!

Estávamos sentindo uma subida, ainda que lenta

Muita gente ainda lembra:

O salário crescia, ainda que um tiquinho

Oportunidades de emprego

Conquistas de direitos

Diálogos na construção de políticas públicas

Estávamos vislumbrando tempos outros

Em que nossos sonhos pudessem ser semeados

Como semente crioula, superando o passado

Com base na labuta da luta

No sabor da sabedoria dxs nossxs mais velhxs

Na beleza do sol, na força da lua...

 

Porém,

Entretanto, contudo e todavia

Vem o sistema bélico opressor

Armado com fakes, dando facadas

Fakeadas a todo vapor...

Achamos que simplesmente estancaríamos no tempo

Mas o projeto vai além do nosso pensamento

A ideia não é parar, é retroceder!

Retroceder décadas

Às custas da miséria

Fazendo das trevas, pilhérias

Desumanamente  corrompidos

Na retomada de projeto vil que nunca foi esquecido

 

O Marco Temporal é um exemplo concreto do retrocesso real

O dia D no Pantanal é outra marca desta fábrica do mal

As reformas trabalhistas são ponto fulcral

A PEC do fim do mundo pôs tudo no rumo do caminho mais obscuro

O racismo descaradamente assumido,

A misoginia desavergonhadamente assumida,

A LGBTfobia cruelmente assumida,

A constituição rasgada...

São passos podres de poderes torpes dos fascistas militares coloniais que respingam seus venenos nos olhares capitais das ditaduras socioculturais que nos alijam dia a dia

É muita dor, muita agonia

Ver o absurdo negacionista ser vomitado como verdade definitiva

É muito triste ver amigos e familiares seduzidos por esta anomalia...

 

Mas o tempo não para

A vida resiste

A gente persiste

Somos nascentes de rio furando a terra

Somos cacimbas Vivas prontas a saciar a sede

Somos o Adobe protegendo nossas crias

Somos abelhas fertilizando campos floridos

E estamos prontos pra defender nossas colmeias com as forças das nossas entranhas

Então, eles querem parar o tempo

Mas somos a engrenagem que não deixa a roda do tempo parar

Somos a ancestralidade fortalecida e fortalecendo o presente

Somos a força que vai parar este anacronismo governamental que anda de trás pra frente

Vamos trazer nossas históricas cosmovisões latentes

Em nossos corpos

Almas

Corações

Crianças

Idosxs

Amorosos

Recheadxs de Vida

Realizando nossos sonhos

Repletxs de energia pra ver novo alvorecer de dia


Marteluz de Jesus

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Frutos da Diversidade

Quais pontes somos?

Quantas pontes passamos?

Quantas pontes desejamos que nos acolham nas escolhas da escola da vida?

Quantas vezes os muros intransponíveis são superados com mãos esticadas lá do alto?

Quantas vezes não caímos no chão porque desabamos no colo de alguém?

Quantas vezes nem percebemos as lanternas que iluminaram nossos caminhos?


A educação é chão de zil mãos

E que deve acolher a todos atento às singularidades que atravessam a multidão

Inúmeras cores

Inúmeras dores

Atrizes e atores

Esperan-çar...


Ah...

Há muito a ser feito

E não há tempo pra negarmos a nós mesmos

Os nós que somos no outro enquanto espelho

Diferentes e iguais ao mesmo tempo

Talvez em momentos diferentes da vida

Mas somos todos os mesmos...


Com compreensões diferentes

Trilhas outras

Experiências e vivências distintas

Mas que não sejam a exclusão que nos aniquila

E sim a mão que na hora do muro nos ajuda

Nos acolhe

Nos ampara

Seca nossas lágrimas

Nos estressa para depois darmos risadas...

É verdade...

Por mais difícil que seja

Precisamos criar pontes

Especialmente nestes tempos sombrios

Em que o ódio é alimento arredio

Que nos põe em rédeas

Nos cega

Nos aliena

Nos mata...


Precisamos crer no povo

Amar a vida

E pela vida

Lutar para vê-la viva!

É fácil gritar viva à diferença

Difícil é viver quando ela é sentença

E então eu pergunto:

Há caminhos para que dois bicudos conversem sem se bicar?

Dá pra construir junto sem tentar se anular?

Dá pra ser novo mundo neste mundo em chamas?


Eu não sei...

Mas sei que toda vez que eu entro na escola

Eu rogo, mentalizo e peço às energias, ajuda para tentar

Tentar ouvir

Acolher

Dialogar

Sem matar o outro

Sem negar o outro

Ser ponte

Na caminhança desta vida estranha

Aprender com a diferença

Olhar a poética da diferença

E entender que meu jeito de ser deve aprender a conviver com seu jeito de ser

Entender que seu jeito de ser deve aprender a conviver com meu jeito de ser

Para a gente somar o ser

E ser humano na construção de novo ser

Novo ser humano

Menos bestial

Mais empático

Mais amoroso

Mais coletivo

Pra gente poder colher fruto gostoso

Às vezes amargo, mas nunca venenoso!


Marteluz de Jesus