Down em mim...

QUANDO CADA PARTE ARDE

E parte,
Deixando seus fragmentos por toda parte.
Parindo em cada caco um grito
Grito que pra muitos é oco,
Pra outros é eco,
Pra muitos, cego.
Entretanto cegos não vêem o grito,
Veem a sombra,
Julgam a silhueta,
Apontam como besteira,
Os vulneráveis acocorados à ponta da ribanceira,
Avaliando a descida,
A queda,
A dimensão do tombo...
No parecer querer jogar-se
Pra se misturar ao chão,
Na lama,
Que canta em teu grito,
Invisível ao insensível mundo.
Só querem teu sorriso,
Só querem teu palhaço,
Esconda teu rasgo,
Pinte os fragmentos,
Faça uma festa dos teus lamentos,
Piadas,
Sarcásticas,
Mas não transpareça este lado da tua humanidade.
A fragilidade exposta provoca,
Incomoda,
Irrita...
Ninguém quer resgatar,
Ninguém compartilha Luz,
E maltratam a vida,
Depois se retratam e abraçam,
Num morder e assoprar desgraçado,
Como que desgarrado do que há de bom,
Preso ao que há de hipócrita.
É das máscaras que todos gostam,
E nelas gastam
Todas as suas fichas,
Suas apostas,
Suas bostas...
Pintam-nas de bostas coloridas,
Divertidas,
Tingidas a sangue,
Fingidas a ferro,
Pra não serem náufragos,
Pra não terem nós nos corações.
E sem os nós bem atados são sós...
"Um barco, uma vela rasgada.
Uma direção e um desabafo"
Partido,
Partindo,
Sendo partidos cada vez mais,
E mais,
e mais,
e mais...

De mais...

Marcelo de Jesus Arouca
P/ Dil



DO GRITO À QUEDA: O VOO

Tá aqui preso, o grito
Querendo ser solto, grito
Se espalhar, se dissipar, me esvaziar, grito
Todos os apelos e súplicas dos dias vividos, grito
As paixões, medos, desejos e re-pulsas, grito
As vozes em minha cabeça gritando, grito
Conflitos entre certezas melindrosamente amarradas, grito
Incertezas e devaneios desvairados, grito
Meu eu se perde em meu eu que se perde no meu eu que, grito
E assim eu grito
E grito
E grito
E grito
Griiiiiiiiitoooooooooo!!!
...
Até que dentro de mim esmaeça meu eu
As vozes
Os conflitos
As incertezas
E meu peito se entorpeça
Nos mix dos meus sentimentos e sentidos
Sentindo vazio
Um pouco de frio
Na solidão da minha angústia umbilical
Me abraço em posição fetal
E adormeço em meu próprio ponto cardinal
Plantando minha manhã em plena noite
Amando minha vida pelo avesso
Misturando minha imagem a mim mesmo no espelho...
Nesta ilha miro o horizonte contemplativo
No horizonte eu reflito
E é olhando lá longe que de dentro de mim eu retiro
As asas que nasceram com a vontade do grito
Lembro que eu já quis fugir
E percebo que não posso fugir de mim mesmo
Foi o que aprendi me misturando a mim mesmo no espelho
Hibernando em posição fetal
Em minha alucinação umbilical...
Estou no ápice de mais uma quebra de paradigma
Na ponta do precipício
E ainda tenho medo
Do desconhecido
Do desconhecido que sou
Tento voltar, mas não dá
Me lembro do grito
E de como o passado não faz mais sentido.
Só me resta pular no abismo e confiar nas asas.
Eu sei
Irei saltar
Eu não sei
Irei encontrar
Só sei que de onde eu vim não quero mais voltar...
Qualquer coisa eu grito
De novo
Mergulho em meu umbigo
De novo
E por mais que venham coisas inusitadas e estranhas,
Nada será mesmo novo
Mas também não será o mesmo de novo
Será o velho eu em nova batalha
E esta contradição que até que tem graça
É a vertigem que me acomete nesta caça
Nesta busca
Em meio a tantas curvas
A tantas casas
Estátuas
Umbigos
Novos velhos
Velhos novos
outr@s
tod@s
aparentemente louc@s
que nem eu...

Somos assim
O eterno devir
Já sendo
Querendo ser
Sem saber plenamente o que
Até se perceber que é @ mesm@
Em nova velha configuração
Pronto pra novos erros-acertos
Gritando
Em posição fetal
Na beira do abismo
O desconhecido
Ou voando
Tentando aterrissar
Pra novos gritos
Novos ciclos
Conflitos
Idos
Dos
Os
S
.
.
.

Marteluz de Jesus Arouca
24216



PRESO EM SI

Preso em si
Sem caminhos pra sair.
Tudo obstruído.
Tudo consumido
Tudo consumado
De dentro ouve-se a pergunta:
- Quem somos?
De fora sons estranhos em vozes muitas vezes familiares.
O sorriso que nos estrangula é claustrofóbico
E no parco espaço dentro da gente
Nossa mente agoniza entre nossos dentes.
A luz que adentra nossas frestas incomoda.
Não queremos esperanças
Não queremos brincadeiras
Não queremos festas ou feiras.
É tudo vazio em um emaranhado de um bocado de coisas confusas e solidamente insólitas...
- Quem somos?
- Quem não queremos ser?
- Onde estamos indo?
- Pra que serve tudo isto?
Somos confrontados conosco,
Com nossos hábitos
E nos escondemos de nós mesmos dentro de nós.
Cada erro uma adaga
Cada falha uma facada.
Cada aposta uma flechada...
E aqui
Dentro de mim
Ensanguentado
Me vejo
Muito crítico
Tenho que silenciar estes pensamentos.
São as críticas que faço os meus tormentos.
E seus ecos os gritos
Os grilos
De mim
Pra mim

Marc d Jes Aro


EU RIO

Eu morri sombrio
Subi num rio
Em que descer é o único caminho
Morri pra vida que todos esperavam
Subi num rio pra encontrar a nascente d’água.
Cresci um peixe novo
Cansado de ser peixe podre
E pobre de espírito não quero ser.

Marteluz de Jesus


MÁ DRUGA DA

Eu tentei dormir e não consegui.
Submergi em mim, e emergi aqui
Entre as palavras que me reviram.
Reavivo meus momentos
Os tristes e os lindos
E nos indos e vindos ventos me sinto.
Sou do tempo
No tempo sou humano
Sendo humano trago erros
E trago muita fumaça em meus devaneios.
Neblinas me cercam
Pedras me travam
Crianças me encantam
Sonhos me provocam
Medos me enrolam.
A madrugada zuni em minha cabeça
As teias me prendem às aranhas
No quarto estou nu
Me desespero
Me arrependo
Crio esperanças
Me desentendo
Confusão
Conflito
Me sinto esquisito
Esquecido por mim mesmo
Encontrando novo eu
E sempre eu
Ciclicamente eu
Egoísta e orgulhoso eu
...
Não teria como ser diferente
Pois sou quem me acompanha
Independente da campanha
Sempre me reencontro comigo
Em noites soturnas de sábado pra domingo
Despido no quarto
Despido, porém armado
Contra mim mesmo... Armado...

Marteluz de Jesus


OSTRACISMO INTERIOR DE FORA

Morres lentamente em vida
Definha claramente em morfina
Desalinha seus suspiros
Gemendo sussurros inaudíveis
Imperceptíveis apenas a quem dista de ti.
E quem está perto percebe
Sem entender o porquê,
Porque só você poderia entender
Mas nem você saberia explicar.
O que sente
O que grita
Porque clama.
É estranho ser
Num ninho de gaivotas tuas penas são cinzas
Discrepante teus olhos
Discrepantes tuas vontades
Destoantes tuas verdades
Desconcertantes os teus hábitos
E tudo o que sabe é que não se adequa.
Numas vezes é até engraçado, mas em geral é um atrapalhado.
O mais irônico é querer um mundo com os teus olhos
Sonhar com sua realidade sobre o mundo que vê.
Estranho ostracisado em si mesmo
Miserável imerso em seus desejos.
Sou Eu.

Marteluz de Jesus


QUE SEJA ETERNO INTERNO EM MEU INTERNO

Me foda e me engula
Me dilua e me disseque
Este mundo não é meu e a ele eu não pertenço.
Quero muros dos mais altos
Pra neles morar isolado
Não me convenço mais pra ser daqui
Não me quero mais me ver aqui
Não quero mais transitar entre este povo
Quero ser eu dentro de um ovo
Com tão forte casca que nem eu possa quebrar
E nunca mais ter que dialogar com qualquer pessoa de novo...
Ser autista em minha vida
E não ter mais que dialogar com qualquer pessoa de novo...
Sou estranhamente diferente
Sou profundamente distorcido
Porque sou superlativo
Incompreensivo
Extremista
Radical.
Narcisista em meu umbigo ferino
Sangrando egoísmo
Singrando egocentrismo
Marcando minha vida
E a vida de tantos com minhas escolhas de compromisso.

Marteluz de Jesus



MORTE–FIQUE–ME

Morte,
Mate-me logo
Arraste-me pro teu colo
Faz-me teu solo
Como aqueles de guitarra
Rasgados
Profundos...
Contudo
Me faça solo fértil.
Nos teus olhos fundos
Permita-me ver minha vida inteira
De fora
De fora...


Marteluz de Jesus


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