BANZO
Chamaram de banzo
A dor negra do desespero
do adeus
Da desesperança de
tudo o que era a Vida
Ver os seus amarrados
a você por grilhões
Em estupros psíquicos
contínuos que atingiram até a dimensão espiritual
E mesmo com tudo isso,
Ainda queriam que aceitássemos
como normal...
Chamaram de banzo a dor
da desgraça que nos causaram
E até hoje não se revisitaram.
Marteluz de Jesus
ELES NÃO VÃO NOS DERRUBAR NUNCA!
Porque nem mortos estamos calados.
Tampouco quando escravizados.
Nossa existência é a própria Revolução!
E por isso nos odeiam! Porque sabem que quem pôde resistir a tudo o que resistimos até hoje, pode derrubar seus privilégios a qualquer momento!
A branquitude é um câncer que banqueteia aos verdadeiros miseráveis!
E nós?
Somos a cura para o nosso povo.
Somos também o veneno para pôr fim ao câncer deles!
Somos sementes ancestrais!
Somos muito mais!
Bob (re) existe em meus Dreads.
Nzinga (re) existe em seus Blacks.
Carolina está nesta poesia!
Luther King dá as mãos a Malcom X em minhas veias todo dia!
Marteluz de Jesus
Escreviver
a Vida
Olhos d’água
Cristalinos
Transparecem almas
Escrevividas
Em linhas vivídas
Em vividas páginas
De textos ricos
Nobres ciclos
Encarnados nos crespos
Encarnado sangue
De singulares olhares
Olhares de dentro
Da dor da pele
Da flor da lua
Do ser semente
Da nossa gente nua
Escrevivências
Só nós sabemos nossos nós
Só nós entendemos nossos tempos
Só nós vivemos nossos calos
Só nós sorrimos nossos amores
Escreviver
Escrever o viver
Autodescrever o ser
Ser eu
Ser Deusa
Rainha do meu reino
Sou meu reino
Meu corpo sagrado
Minha libido é tão minha
Minha, minha, miinha em mim minh’alma se
aninha
Se engrandesce
Quando reconheço em mim a Poesia
A guerreira
A curandeira
A letrista
Da minha própria escrevivência
Minha excência
Única no mundo
Inestimável trajetória
Desnuda em minha oratória
Ontem, amanhã, agora
Escrevivências
Escreviver
Escrever meu ser, meu viver
Ser cristalina
Transparecer a vida sob meu prisma
Pois sobre a minha vida sou a única autoridade
viva!
Marteluz
de Jesus
POR ELAS, PARA ELAS, COM ELAS
Bicudos da minha vida
Marielles da minha caminhada
Marinalvas da minha Luz
Anas da minha inspiração
Marias da minha esperança
Stellas das minhas espiritualidades
Lélias das minhas militâncias acadêmicas
Hellens das minhas re-existências
Dandaras dos meus quilombos
Margareths dos meus encantos
Nos seus cantos, vozes, escritos, preces e lutas de Resistências
Nossas insubmissas missões matém nosso povo em alerta
Nos acalenta em nossas dores
Nos ampara em seus amores
E nem por todas as dores pararemos
Pois somente a Justiça nos sacia
A dignidade é nossa única Via!
Marteluz de Jesus
CAMINHOS EM CURZLHADAS
Eu cresci
Me vendo mulato
Mas na hora que queriam,
Eu era preto, e tinha q ficar calado.
Cresci sem entender
a razão daquelas expressões
Não me perguntava
Não fazia conexões
Não entendia
O peso histórico da cor das peles
Dos olhos
Dos cabelos...
Depois, tempos depois,
Entendi que havia um tal capital
E que tinha q ter pra ser genial
Achei q a questão central que me aprisionava no lugar de nada
era minha pobreza
E mais uma vez a inocência me deixava de bobeira
Porque antes de ser pobre
Eu era preto
Mas sendo mulato, eu não entendia o a expressão do termo
...
Foi apenas tempos depois
Que compreendi que tudo tava costurado
Meu corpo estava todo marcado
O mundo antes de capitalista é racializado
Eu precisei entender isto pra me despir do que eu achava que
eu era
Precisei me despir pra reconstruir novo ser
Renascer em nova relação racial
De gênero
De sexualidade
Precisei mexer em mim em cada parte
Pra renascer novo ser
Na contínua reconstrução do ser
Na contínua ressignificação do ser
Pra ser novo ser
Em encontro comigo
Posicionamento crítico no mundo
E vc?
Já nasceu pronto?
Se não, quando despertou pra ser novo ser?
Marteluz de Jesus
FAVELAS BELAS
Favelas belas e as resistências delas
Libertas teu povo
Em tuas próprias leis e regras
Transformando o território hostil em habitável
Mesmo com todos os seus problemas se transforma
em lar
E acolhe
Abraça
Alarga as relações familiares
Pelas quebradas, igrejas e bares
O negrume ancestral se manifesta nas portas e
soleiras
Nas relações com o espaço comum
Na insubmissa relação de solidariedade
Quando fazemos o puxadinho
Quando ressignificamos o valor das coisas
Quando superamos obstáculos impostos pelo vil
capital
Que transando com o Estado nos colocou no
pelourinho
Mas Olorum que não nos abandona
Rufa seus tambores todos os dias
Libertando nossos dreads
Nossos cachos
Nossas mentes
E voamos livres nas favelas
Podemos ser quem somos
Aquilombados em nossas linguagens e estéticas
E se muitos acham que não devíamos nem existir
E se tentam nos aniquilar com todas as cobras
que soltam em nossos quintais
Nossa re-existência revela nossa majestade
Somos bairro nobre
A Favela é bela nas resistências de suas vielas
Suas vielas são nossas saídas
Nossa Favela é Bela!
Marteluz Negrume de Jesus
Cansei
de respirar por entre seus dedos
Eu Cláudia
Criei Aghata
Vi crescer João Pedro
Fiquei viúva de George Floyd logo cedo
E sim, eu tive medo...
Como seguir a vida em meio a tanto
desespero?
Como vencer o racismo diário com meu seio ensanguentado
e cortado ao meio?
Eu dei a luz a Geovane,
Dormi no Ninho do Urubu
Estive no Cabula
Fui jogada com Miguel do nono andar da casa
grande
Mas muito antes, desde antes eu sou
chacinada...
Muitos esquecem, mas eu vim da Candelária!
A morte branca ri do genocídio negro nas
quebrada
Afinal, por que um cachorro morto no
supermercado comoveu mais do que um negro asfixiado?
Vidas negras importam
A diáspora negra foi fruto de sucessivos
estupros
E mesmo depois de Bob, King, X, Gama,
Aninha, Benguela, Mandela e tantas Negras Pérolas,
Ainda cospem em Zumbi e atiram em mim!
O mundo foi dividido em raças
E a minha tem a carne mais barata!
Somos diferentes nos medos e nos desejos
Diferentes nos condomínios e nos quartos dos
despejos
Mas por dentro o sangue é o mesmo...
Vidas negras importam
E essa desgraça histórica me sufoca!
É nossa coragem que nos ergue em riste
Ancestralidade re-existe
Reconheçam nossa glória
Mas sem romantismos, sem batota...
Avançamos muito e do muito, muito ainda é
pouco
Pois o racismo é genocida
Ele não brinca
E pro racismo eu quero Fogo!
Vidas negras importam
E eu quero respirar!
Quero ver meu filho ir à esquina e ter a
tranquilidade de que ele vai voltar!
E isso não é nada mais do que o digno!
É isso...
Cansei de respirar por entre seus dedos!!!
Marteluz de Jesus
PARAISÓPOLIS
Somos
do Paraíso
Mas
apesar disso
Somos
massacrados por Racismo!
Nos
negam humanos direitos
E
nesse meio, nos negam o direito ao lazer!
Apesar
disso, nos organizamos
E
cantamos nossas músicas,
Dançamos
nossos corpos
Fazemos
nossas festas
Tudo
o que queremos é ficar bem
E
não temos ninguém pra desatar nossos nós
Na
fila do desemprego
Nas
escolas vilipendiadas
No
deserto do abandono
Em
séculos de alienação e assombros
Eu
vim do Paraíso
Pelo
ventre de mainha preta
Mas
me marginalizaram
Me
tatuaram com seus estigmas
Me
distorceram seu suas diferenças
Me
viraram às avessas
Me
jogaram às bestas
Me
negaram sorrisos
Me
negaram oportunos domingos
Me
tiraram o direito de ser filho
Arrancaram
de mim as infâncias
Mastigaram
meu futuro com promessas de consumo
Me
conduziram para os abismos profundos do invisível
E
de lá do fundo do navio eu gritei!
Mesmo
de lá de dentro eu gritei:
– ESTOU VIVO!!!
E
gritei tão alto
Nas
danças cantadas nos sons dos carros
Que
incomodei os barão que moram ao lado
E
eles que não suportam a ousadia que é a minha existência
Mandaram
me prender
Mandaram
me bater
Mandaram
me matar
Mandaram
me pôr no meu “reservado” lugar...
E
assim,
Naquele
1º de dezembro de 2019
Os
Capitães do Mato vieram preparados
E
armaram
Uma
armadilha
Um
espetáculo pra fascista
Que
dos prédios “higienizados” grasnavam sua alegria sanguinolente...
Somos
do Paraíso
E
exatamente por isso
Fomos
massacrados por Racismo!
Fomos
espremidos nos becos
Espancados
nos becos
Torturados
nos becos
Pisoteados
nos becos
Asfixiados
nos becos
E
nos mesmos becos em que crescemos
Nos
becos do nosso Paraíso
Na
noite daquele inferno
Fomos
devolvidos ao céu
Em
meio às suplicas de nossas mães
Em
meio ao lamento de nossos pais
Me
meio às lágrimas dos nossos irmãos
Em
meio às lágrimas das nossas irmãs...
Para
quem sempre fomos
Aves
do Paraíso
Marteluz
de Jesus
SOMOS MAIS
Bem que
tentaram...
Mudaram a
história
Corromperam
a escola
Proibiram meus
deuses
Negaram-me
o direito de ser gente!
Ma mãe, eu sou ozado e virado na porra
Não aceito
sua endemonização
Minha entronização
vem de longe
É ulterior!
E mainha,
Que na sua
elegância de Rainha me ensinou a andar de cabeça erguida
Já dizia:
- Quem
muito se abaixa, mostra o que não deve!
E assim me
criei cabra da peste
Arrinado
Virado no
caralho
E quando
percebo que querem me pegar na cocó
De quebrada
me saio e ainda escracho!
Foi assim
outro dia no mercado
Seguranças me
seguiam e eu gastei com a cara dos otário
E outrora,
quando fui abordado?
Dei carteirada
na cara:
- Sou
professor, mais respeito, mais cuidado!
Infelizmente
nem pra todos pode ser assim
Minha sorte
foi a luz do dia
Se é na
madruga eu seria estatística...
É... é foda...
Mas este
sistema não me dobra
Eu clamo,
choro e luto por irmãos e irmãs que nem puderam se defender,
Peço
licença a João Beto,
Eu, Poeta Preto
nos versos me manifesto
E na sala
de aula solto o verbo
Na luta
antirracista que não finda
Vou cantar
aos quatro ventos:
- EU SOU
LINDO!
Ninguém pode
tirar de mim isso que demorei tanto a entender...
- Sou nobreza,
da realeza de mainha!
A dignidade
tá no meu sangue, transmutada em atitude
A minha
segurança é minha vigília
Minha
história é minha guarita
Valeu Gama,
Valeu NZinga
Daqui pra
frente, é nóiz na fita!
DANÇAMOS NOSSA LUTA, LUTAMOS NOSSA DANÇA!
"A POESIA CRIA ASAS"
Ouço vozes e rajadas.
Mas não são balas
Entretanto cada tiro abala.
São Potentes Palavras
São as vozes pretas se afirmando
São as bandeiras negras flamulando
Chegue de boa que já está a rolar
Mais um Sarau vai jorrar, vai singrar
Cingir a periferia com Esperança
Ressignificar o que fora deixado de herança
Seus estigmas e estereótipos não colam
A Favela é Rica e nela eu decolo.
Nossos dons se erguem em nossas linhagens
A rima, a música, a pintura
Toda nossa arte.
Somos também doutores em medicina, docência, arquitetura e o que tiver
E no sarau expusemos o que a gente quiser
Nossas dores e lutas
Paixões, Amores e Condutas
Denunciamos o Racismo
A homofobia, o Machismo.
No Sarau nos fortalecemos e nos unimos
Reconhecemos nosso brilho e não dependemos de falsos sorrisos
Somos realeza e assim nos reconhecemos
Nossa estética produzimos e exigimos respeito.
As quebrada cada vez mais mostram sua cara
E ela é negra, grita e não para.
Vamos reverberar pelo país inteiro
Nossos versos somos nós mermo
E se um dia você ouvir gritos na favela, cumpadi
Pode ser mais um Sarau borbulhando nossa arte!
FAVELA: MEU QUILOMBO
RAMOS NEGROS.
SOU NEGRÍNDIO
Eu sou Serigy
Sou a resistência na raiz
Da raiz aos dreads
Sou vermelhopreto
Sou eu mermo
Soul free
Ventos a zunir
Espalhando sementes de vidas pelos corações
Em/pelas minhas vestes
Minhas peles
Meus cabelos
Meus gracejos
Me reconheço muito mais do que dizem
Sou muito mais do que propagam
Me difamam por medo
Mas não preciso dos seus espelhos
Nem lhe faço apelos
Meus gritos são de guerra
São as vozes das revoluções
Das explosões dos nossos peitos
Pelas nossas veias
Em nossas consciências
Nosso tempo só não chegou porque nunca se foi
Sempre foi nosso tempo
Sempre é nosso tempo
Sempre será nosso tempo
Somos lindos por fora e por dentro
Na cor
Nagô
Tupinambá
Nas belas penas
Nas tranças
Danças
Sons
Vozes
Histórias
Deusxs
Estrelas
Somos a festa da realeza
Nobreza
Vaidade
Densidade e leveza
Somos resistência
Somos a revolução
Soul Negríndio
Sou negro no Índio
Sou Índio no negroSou eu mesmo
Negríndio arretado
Baiano virado
Vidrado em Amor
Amor pela vida
Negra vida
Índia vida
Resistente
Contente
Efervescente sente as grandes asas da liberdade
Que faz voar a mente
Que afirma a raiz
Quase que esquecida por quase todxs.
E minha alma sorri feliz
Quando vejo minha pele assim
Sem esquecer meu branco
Mas enaltecendo minha identidade negada pela história mal contada
Identidade de glória
Negro
Índio
Eu Soul NegrÍndio!!!
DANDARA
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