Poemas NegrÍndios

BANZO

 

Chamaram de banzo

A dor negra do desespero do adeus

Da desesperança de tudo o que era a Vida

Ver os seus amarrados a você por grilhões

Em estupros psíquicos contínuos que atingiram até a dimensão espiritual

E mesmo com tudo isso,

Ainda queriam que aceitássemos como normal...

 

Chamaram de banzo a dor da desgraça que nos causaram

E até hoje não se revisitaram.

 

Marteluz de Jesus



ELES NÃO VÃO NOS DERRUBAR NUNCA!


Porque nem mortos estamos calados.

Tampouco quando escravizados.


Nossa existência é a própria Revolução!


E por isso nos odeiam! Porque sabem que quem pôde resistir a tudo o que resistimos até hoje, pode derrubar seus privilégios a qualquer momento!


A branquitude é um câncer que banqueteia aos verdadeiros miseráveis!


E nós?

Somos a cura para o nosso povo.

Somos também o veneno para pôr fim ao câncer deles!


Somos sementes ancestrais!


Somos muito mais!


Bob (re) existe em meus Dreads.


Nzinga (re) existe em seus Blacks.


Carolina está nesta poesia!


Luther King dá as mãos a Malcom X em minhas veias todo dia!


Marteluz de Jesus



Escreviver a Vida

 

Olhos d’água

Cristalinos

Transparecem almas

Escrevividas

Em linhas vivídas

Em vividas páginas

De textos ricos

Nobres ciclos

Encarnados nos crespos

Encarnado sangue

De singulares olhares

Olhares de dentro

Da dor da pele

Da flor da lua

Do ser semente

Da nossa gente nua

 

Escrevivências

Só nós sabemos nossos nós

Só nós entendemos nossos tempos

Só nós vivemos nossos calos

Só nós sorrimos nossos amores

 

Escreviver

Escrever o viver

Autodescrever o ser

Ser eu

Ser Deusa

Rainha do meu reino

Sou meu reino

Meu corpo sagrado

Minha libido é tão minha

Minha, minha, miinha em mim minh’alma se aninha

Se engrandesce

Quando reconheço em mim a Poesia

A guerreira

A curandeira

A letrista

Da minha própria escrevivência

Minha excência

Única no mundo

Inestimável trajetória

Desnuda em minha oratória

Ontem, amanhã, agora

 

Escrevivências

Escreviver

Escrever meu ser, meu viver

Ser cristalina

Transparecer a vida sob meu prisma

Pois sobre a minha vida sou a única autoridade viva!

 

Marteluz de Jesus


POR ELAS, PARA ELAS, COM ELAS

Bicudos da minha vida

Marielles da minha caminhada

Marinalvas da minha Luz

Anas da minha inspiração

Marias da minha esperança

Stellas das minhas espiritualidades

Lélias das minhas militâncias acadêmicas

Hellens das minhas re-existências

Dandaras dos meus quilombos

Margareths dos meus encantos

Nos seus cantos, vozes, escritos, preces e lutas de Resistências

Nossas insubmissas missões matém nosso povo em alerta

Nos acalenta em nossas dores

Nos ampara em seus amores

E nem por todas as dores pararemos

Pois somente a Justiça nos sacia

A dignidade é nossa única Via!


Marteluz de Jesus


CAMINHOS EM CURZLHADAS

 

Eu cresci

Me vendo mulato

Mas na hora que queriam,

Eu era preto, e tinha q ficar calado.

Cresci sem entender

a razão daquelas expressões

Não me perguntava

Não fazia conexões

Não entendia

O peso histórico da cor das peles

Dos olhos

Dos cabelos...

Depois, tempos depois,

Entendi que havia um tal capital

E que tinha q ter pra ser genial

Achei q a questão central que me aprisionava no lugar de nada era minha pobreza

E mais uma vez a inocência me deixava de bobeira

Porque antes de ser pobre

Eu era preto

Mas sendo mulato, eu não entendia o a expressão do termo

...

Foi apenas tempos depois

Que compreendi que tudo tava costurado

Meu corpo estava todo marcado

O mundo antes de capitalista é racializado

Eu precisei entender isto pra me despir do que eu achava que eu era

Precisei me despir pra reconstruir novo ser

Renascer em nova relação racial

De gênero

De sexualidade

Precisei mexer em mim em cada parte

Pra renascer novo ser

Na contínua reconstrução do ser

Na contínua ressignificação do ser

Pra ser novo ser

Em encontro comigo

Posicionamento crítico no mundo

E vc?

Já nasceu pronto?

Se não, quando despertou pra ser novo ser?


Marteluz de Jesus


FAVELAS BELAS

 

Favelas belas e as resistências delas

Libertas teu povo

Em tuas próprias leis e regras

Transformando o território hostil em habitável

Mesmo com todos os seus problemas se transforma em lar

E acolhe

Abraça

Alarga as relações familiares

Pelas quebradas, igrejas e bares

O negrume ancestral se manifesta nas portas e soleiras

Nas relações com o espaço comum

Na insubmissa relação de solidariedade

Quando fazemos o puxadinho

Quando ressignificamos o valor das coisas

Quando superamos obstáculos impostos pelo vil capital

Que transando com o Estado nos colocou no pelourinho

Mas Olorum que não nos abandona

Rufa seus tambores todos os dias

Libertando nossos dreads

Nossos cachos

Nossas mentes

E voamos livres nas favelas

Podemos ser quem somos

Aquilombados em nossas linguagens e estéticas

E se muitos acham que não devíamos nem existir

E se tentam nos aniquilar com todas as cobras que soltam em nossos quintais

Nossa re-existência revela nossa majestade

Somos bairro nobre

A Favela é bela nas resistências de suas vielas

Suas vielas são nossas saídas

Nossa Favela é Bela!

 

Marteluz Negrume de Jesus


Cansei de respirar por entre seus dedos

 

Eu Cláudia

Criei Aghata

Vi crescer João Pedro

Fiquei viúva de George Floyd logo cedo

E sim, eu tive medo...

Como seguir a vida em meio a tanto desespero?

Como vencer o racismo diário com meu seio ensanguentado e cortado ao meio?

 

Eu dei a luz a Geovane,

Dormi no Ninho do Urubu

Estive no Cabula

Fui jogada com Miguel do nono andar da casa grande

Mas muito antes, desde antes eu sou chacinada...

 

Muitos esquecem, mas eu vim da Candelária!

A morte branca ri do genocídio negro nas quebrada

Afinal, por que um cachorro morto no supermercado comoveu mais do que um negro asfixiado?

  

Vidas negras importam

A diáspora negra foi fruto de sucessivos estupros

E mesmo depois de Bob, King, X, Gama, Aninha, Benguela, Mandela e tantas Negras Pérolas,

Ainda cospem em Zumbi e atiram em mim!

 

O mundo foi dividido em raças

E a minha tem a carne mais barata!

Somos diferentes nos medos e nos desejos

Diferentes nos condomínios e nos quartos dos despejos

Mas por dentro o sangue é o mesmo...

 

Vidas negras importam

E essa desgraça histórica me sufoca!

É nossa coragem que nos ergue em riste

Ancestralidade re-existe

Reconheçam nossa glória

Mas sem romantismos, sem batota...

 

Avançamos muito e do muito, muito ainda é pouco

Pois o racismo é genocida

Ele não brinca

E pro racismo eu quero Fogo!

 

Vidas negras importam

E eu quero respirar!

Quero ver meu filho ir à esquina e ter a tranquilidade de que ele vai voltar!

E isso não é nada mais do que o digno!

É isso...

 

Cansei de respirar por entre seus dedos!!!


Marteluz de Jesus


PARAISÓPOLIS

 

Somos do Paraíso

Mas apesar disso

Somos massacrados por Racismo!

 

Nos negam humanos direitos

E nesse meio, nos negam o direito ao lazer!

Apesar disso, nos organizamos

E cantamos nossas músicas,

Dançamos nossos corpos

Fazemos nossas festas

Tudo o que queremos é ficar bem

E não temos ninguém pra desatar nossos nós

 

Na fila do desemprego

Nas escolas vilipendiadas

No deserto do abandono

Em séculos de alienação e assombros

 

Eu vim do Paraíso

Pelo ventre de mainha preta

Mas me marginalizaram

Me tatuaram com seus estigmas

Me distorceram seu suas diferenças

Me viraram às avessas

Me jogaram às bestas

Me negaram sorrisos

Me negaram oportunos domingos

Me tiraram o direito de ser filho

Arrancaram de mim as infâncias

Mastigaram meu futuro com promessas de consumo

Me conduziram para os abismos profundos do invisível

E de lá do fundo do navio eu gritei!

 

Mesmo de lá de dentro eu gritei:

 

– ESTOU VIVO!!!

 

E gritei tão alto

Nas danças cantadas nos sons dos carros

Que incomodei os barão que moram ao lado

E eles que não suportam a ousadia que é a minha existência

Mandaram me prender

Mandaram me bater

Mandaram me matar

Mandaram me pôr no meu “reservado” lugar...

 

E assim,

Naquele 1º de dezembro de 2019

Os Capitães do Mato vieram preparados

E armaram

Uma armadilha

Um espetáculo pra fascista

Que dos prédios “higienizados” grasnavam sua alegria sanguinolente...

 

Somos do Paraíso

E exatamente por isso

Fomos massacrados por Racismo!

 

Fomos espremidos nos becos

Espancados nos becos

Torturados nos becos

Pisoteados nos becos

Asfixiados nos becos

E nos mesmos becos em que crescemos

Nos becos do nosso Paraíso

Na noite daquele inferno

Fomos devolvidos ao céu

Em meio às suplicas de nossas mães

Em meio ao lamento de nossos pais

Me meio às lágrimas dos nossos irmãos

Em meio às lágrimas das nossas irmãs...

Para quem sempre fomos

Aves do Paraíso

 

Marteluz de Jesus


SOMOS MAIS


Bem que tentaram...

Mudaram a história

Corromperam a escola

Proibiram meus deuses

Negaram-me o direito de ser gente!

Ma  mãe, eu sou ozado e virado na porra

Não aceito sua endemonização

Minha entronização vem de longe

É ulterior!

E mainha,

Que na sua elegância de Rainha me ensinou a andar de cabeça erguida

Já dizia:

- Quem muito se abaixa, mostra o que não deve!

E assim me criei cabra da peste

Arrinado

Virado no caralho

E quando percebo que querem me pegar na cocó

De quebrada me saio e ainda escracho!

Foi assim outro dia no mercado

Seguranças me seguiam e eu gastei com a cara dos otário

E outrora, quando fui abordado?

Dei carteirada na cara:

- Sou professor, mais respeito, mais cuidado!

Infelizmente nem pra todos pode ser assim

Minha sorte foi a luz do dia

Se é na madruga eu seria estatística...

 

É... é foda...

Mas este sistema não me dobra

Eu clamo, choro e luto por irmãos e irmãs que nem puderam se defender,

Peço licença a João Beto,

Eu, Poeta Preto nos versos me manifesto

E na sala de aula solto o verbo

Na luta antirracista que não finda

Vou cantar aos quatro ventos:

- EU SOU LINDO!

Ninguém pode tirar de mim isso que demorei tanto a entender...

- Sou nobreza, da realeza de mainha!

A dignidade tá no meu sangue, transmutada em atitude

A minha segurança é minha vigília

Minha história é minha guarita

Valeu Gama, Valeu NZinga

Daqui pra frente, é nóiz na fita!

 

Marteluz de Jesus


REFLEXUS

Me veja na história
Ainda que me ache morto
Ainda que me faça morta
Sou faca afiada
Amolada na beira da estrada

Por minha gente
Minha mente permanece atenta

Por minha gente
Meus olhos não descansam

Por minha mente
Minha gente me abraça
E enquanto o tempo passa
Os seus olhos me acham nada
E eu, nado por debaixo da sua água
Criando minhas asas
Erguendo minhas casas
Mocambos
E entre estrondos eu canto
E conto agora minha história
De glórias
Resistindo ao seu maldito extermínio
Sobrevivendo ao escruncho mais invasivo
Exalando meu sangue em meu suor
Sigo
Forte
E nunca só

Marcelo Marteluz de Jesus





NÓS DE RESISTÊCIA

Do vermelho ardente da vida
Dos sóis correntes vigias
Da vida que urra as agruras do mundo
Da ferida que não se cicatriza pra se sangrar
Singram-se os sonhos pelas mãos de quem segue
Ora aberta, ora fechada
Se cerca de duvidosas certezas
A vida se manifesta assim
E é linda em sua lida
Pois em cada percalço caminhado
Os murros nas pontas d`facas que causam estragos
Ensinam a seguir
A ser
E a investir.

Os passos negros na noite que insiste em não acabar
Bailam na firmeza da sua veracidade
E após cada tropeção, ao reerguer, dista-se do chão.
Sim, e aqui, é seguindo assim que a vida se faz linda
Mesmo com todo o ardor da lida
Com toda muralha criada por vil sadismo
Fazemos nossa vida valer e ser linda
A mãe que traz ao peito seu rebento
O pai que traz nas lágrimas suas ossuras
Mantém acesas as chamas da continuidade
Pela ancestralidade
E em meio a tantas barbáries
Achamos espaço pra sorrir
E seguimos a cantar nossa fé
E festejamos a cada nova vida
Fazemos rebuliço e nos mantemos de pé
Mais uma criança vem a nos abençoar
E mesmo com toda labuta
Estamos a nos fortificar em nós mesmos
E dos nossos seios os sonhos alam-se
E chocam-se contra o seu céu
Que chocado se quebra ante nossa festa
De sermos nós
Seus nós
De ser o nosso sangue
Em suas mãos
De ser nosso suor
Em nossa mesa
E ser nossa fé a nossa grandeza!
Crescemos
Adentramos espaços
E mesmo em meio a tanta confusão
Entre tantos atos falhos
Chegamos aqui graças aos nossos próprios afagos
Aquela mão ora estendida, ora fechada
Arrebentou a porta outrora fechada
E berrou no seu cândido céu de amordaçado silêncio
Alarmando:
TODOS NÓS ESTAMOS AQUI!!!

Marcelo Marteluz de Jesus




RUDILHAS E RODAS: O TEMPO SEMPRE VOLTA

Nos antiquados tempos
Já se perguntou sobre as essências
E duns tempos pra cá
Os desenraizados se perderam no espaço.

Se seus olhos se voltassem para o lado
E no ancião vissem o tempo
E na menina vissem o tempo
E na planta, no cosmos, no mar, no ar...
Se percebessem sua conexão com tudo
Se não fosse o seu imbigo o tudo
Não perderiam tanto tempo se perguntando
Buscando
Arrudiano
Tentando inventar a roda!

Ói que a ciranda sempre esteve aqui
E nas mãos dadas
Nas músicas de danças laceadas
Nas brincadeiras e gaitadas
A história milenar se repete
A vida se aflora
A harmonia se derrama
Ancestralidade se faz presente e chama
O Amor reclama
E a gente inda anda
De mãos dadas


Marcelo Marteluz de Jesus



DANÇAMOS NOSSA LUTA, LUTAMOS NOSSA DANÇA!

Nossa dança é matreira
Vadiagem e mandinga
Levanta poeira
Arrasta o pé
É AU, é esquiva.
Nossa dança se joga,
Se luta,
Se mostra.
É forte
É roda
E roda.
Nossa ancestralidade é evocada
Nas nossas músicas ela é exaltada.
A pele transpira
A herança transcende
A raiz ascende
E o corpo é quente
É quente
É quente.
Nós não precisamos de Balé.
Nossa dança é afrocentrada
Cantada numa corda só
Batida no couro
Na palma
Sacudindo os cordões e lenços coloridos
Uma voz chama e o coro segue repetindo.
"Bimba é Bamba"
E nos enriqueceu com sua herança
Nossa Dança é Capoeira!
Nossa luta brasileira tem raiz africana!



Marcelo Marteluz de Jesus



HISTÓRIA NEGRA. HERANÇA DO PODER PRETO!

Desvelar a história Negra é compreender minha Vida.
É perceber de onde vem a minha força guerreira.
É entender o porquê do tamanho dos obstáculos que encaro hoje.
É reconhecer a necessidade constante de vigilância e prontidão em cada situação.
Olhando pra traz reafirmo a importância de valorizar sempre mais a minha Mãe.
Sei que todas as minhas conquistas são, em verdade, dela.
Devo também louvar a Preta que hoje cola comigo.
Devo zelar pelos passos negros das minhas Filhas e dos meus Filhos.
Sacando o passado fico veaco pras armadilhas da discriminação.
Preciso aprimorar o uso das armas que sou obrigado a manter nas mãos.
São mil tretas no caminho...
Examinar a História Negra é Fortalecer minha Identidade.
É ser abençoado pela beleza dos feitos da ancestralidade.
É olhar pro futuro e saber que podemos muito mais.
É autoestima,reconhecer que somos Foda, somos
Demais!!!
É definitivamente não assumir a culpa dos maiores males que nos acometem, pois fomos lesados por séculos por estes mesmos que permanecem aí.
E é por olhar nossa história que eu sei que vamos conseguir sair.
Lindxs.
Turbantadxs, Endredadxs, de Blacks, cabelos raspados, desenhados ou como quisermos.
Pois herdamos o dom de sermos Belos
Em Ébano
Alegria
Resistência
Amor pela Terra
Sabedoria
Amor pela Vida
E Luz.
Negra Luz!



Marcelo Marteluz de Jesus


"A POESIA CRIA ASAS"

"A Poesia cria Asas"!
Nos tira da ilusão e nos leva pra casa...
"A Poesia Cria Asas"!
E assim vamos.
E agora do CASE pra França.
Em Blacks, cacheados, pretas cores em Pretas linhas.
A Poesia liberta
Lava alma
Muda vida
Reescreve sinas.
Eleva...
Pelo Sarau mundos mudam.
Mudas e mudos ficamos com as histórias recitadas,
Vivenciadas...
E nesta noite foi foda,
Foram muitas pedradas.
Lição pra resitirmos nesta estrada.
Os miseráveis dizem por despeito que não temos jeito.
Tentam nos enjaular em rótulos, estereótipos e diferentes amarras.
Mas ninguém amordaça a Onça.
Mostramos nossos dentes.
Nossa garra.
Nosso rugido é forte.
Ecoa,
Destoa do que eles dizem.
(Ainda bem que não precisamos deles)
A Poesia cria Asas e leva a Favela pro mundo.
Revela que Favela pode tudo.
E aqui vamos... nas asas das Poesias.
Com nossa linguagem, que na Favela é própria.
E se além do Favelês falamos Português,
Agora teremos nossa Poesia Preta em Francês!!!
Obrigado a todas vocês!

Marteluz de Jesus e Ana Ribeiro



A POESIA CRIA ASAS DE NOVO

A Poesia cria asas,
Mas também facas,
Adagas,
Machadas.
E abre clareiras pra novas moradas.
Aquelas selvas trevosas não esconderão mais o sol.
Pelas Poesias, a Luz brilhará em nossas vozes,
Transbordará em nossos olhos,
Irrigará nossos braços,
Envolverá nossos corpos,
E nos cobrirá de Esperança.
Somos belezas discursadas em Poesias.
Recitadas no dia a dia.
Voando em fortes asas.
Iluminando a cidade, o país, toda a Terra!!!
Poesia é Vida de Luz,
Iluminando o Getho,
Revelando o nosso conceito de estética!!!
Salve Sarau na Favela!!!!!!

Marteluz de Jesus e Ana Ribeiro



O OLHAR DO EMPODERADO

O olhar do empoderado brilha
O olhar do empoderado avisa
que a vista está ativa.
O olhar do empoderado vibra
A força, o poder, ser a grande conquista.
O saber do seu lugar
A sabedoria do querer pertencer
Do pertencer a si mesmo
Do pertencer ao seu meio
A vivacidade de em seu meio se encontrar
O empoderamento que faz o sangue quente pulsar
Ferver pelos olhos
Fortalecer a mão
As pernas
O peito
A Vida
No olhar do empoderado há Vida

Marcelo de Jesus Arouca
Marteluz de Jesus


SARAU

Ouço Gritos na quebrada
Ouço vozes e rajadas.
Mas não são balas
Entretanto cada tiro abala.
São Potentes Palavras
São as vozes pretas se afirmando 
São as bandeiras negras flamulando
Chegue de boa que já está a rolar
Mais um Sarau vai jorrar, vai singrar
Cingir a periferia com Esperança
Ressignificar o que fora deixado de herança
Seus estigmas e estereótipos não colam
A Favela é Rica e nela eu decolo.
Nossos dons se erguem em nossas linhagens
A rima, a música, a pintura
Toda nossa arte.
Somos também doutores em medicina, docência, arquitetura e o que tiver
E no sarau expusemos o que a gente quiser
Nossas dores e lutas
Paixões, Amores e Condutas
Denunciamos o Racismo
A homofobia, o Machismo.
No Sarau nos fortalecemos e nos unimos
Reconhecemos nosso brilho e não dependemos de falsos sorrisos
Somos realeza e assim nos reconhecemos
Nossa estética produzimos e exigimos respeito.
As quebrada cada vez mais mostram sua cara
E ela é negra, grita e não para.
Vamos reverberar pelo país inteiro
Nossos versos somos nós mermo
E se um dia você ouvir gritos na favela, cumpadi
Pode ser mais um Sarau borbulhando nossa arte!



SARAU II

Sarau é formação

Artística, Política e Identitária

Nos Saraus em que tenho ido, tenho sentido em mim Reafirmação
Artística, Política e Identitária.
A Glória de ser Preto
O Orgulho de ser Favela
Periferia sopra em mim os ventos da revolução
Do meu povo que transborda em uma juventude poetizada
Nas senhoras e senhores que nos ensinam a caminhar.
O Sarau é a expressão de quem quer viver diferente
E na arte transcende sua mente.
Saraus como os que conheci me enchem de Esperança.
Somos tudo aquilo que a grande mídia não mostra
Somos Liberdade, Criatividade, Força, Inteligencia, Negritude em verso e prosa
Somos o que os Opressores não querem
Somos a voz consciente da nossa gente
Somos Luta Consistente que não pretende se calar
Vamos lacrar em todo lugar que chegar






FAVELA: MEU QUILOMBO

Sou Favela.
A Favela é o meu Quilombo!
Rejeitei sua senzala, pois lá nunca foi a minha casa.
Sou Preto e por onde passo eu enegreço.
Minha pele é meu manto,
Minha cor é minha raça.
E na gana minh'alma canta.
Axé!
Muito Axé pra todxs nós.
Desatando os nós de correntes históricas buscamos reparação.
Por meio de cotas,
Por meio de Leis,
Pela Igualdade.
Nossas coroas retomam as ruas nos Blacks, Turbantes e Dreads.
Vamos mais longe.
Só quero o que é meu!
Consciência Negra é Luta!
Consciência Negra é Empoderamento!
Consciência Negra é Resistência!
Consciência Negra é Mudança!
Consciência Negra é Beleza!!!
Desejo a todxs Luz.
À minha negrada mais conquistas.


FAVELA: MEU QUILOMBO II – RESISTÊNCIA

Sou Favela
Sou Quilombo
Sou Resistência!

Noiz é Correria
E na luta do dia a dia somos também Poesia.
Mas o esquema não mudou.
Ainda nos perseguem...
Os Capitães do Mato vêm com suas sirenes;
Minha cabeça vale ouro pros abutres televisivos;
Meu sangue vale ouro pros patrões dos modernos engenhos.
Mas minhas mãos cheias de calo não se calam mais pra sua fome doentil.
Eu Trabalho
Estudo
Me especializo
Não me entrego
Conheço suas artemanhas
Me organizo
Chamo as minhas
Chamo os meus
E Luto.

Ainda reclamo o Luto dos milhões que foram e são brutalmente assassinados por suas mãos sujas e escravocratas.

FAVELA: MEU QUILOMBO III - ALTERIDADES

Quero aqui te dar a real:
Não me venha com este papo de igual
DEFINITIVAMENTE A NÃO SOMOS IGUAIS.
Quando entramos no mercado
Seja pra comprar ou trabalhar;
NÃO SOMOS TRATADOS IGUAIS!
Quando andamos nas ruas ou nas avenidas;
NÃO SOMOS TRATADOS IGUAIS!
Nas escolas;
NÃO SOMOS TRATADOS IGUAIS!
Nos livros;
NÃO SOMOS TRATADOS IGUAIS!
Na mídia
NÃO SOMOS TRATADOS IGUAIS!
Quando estamos nos bairros abastados ou nos guetos esquecidos por vocês
NÃO SOMOS TRATADOS IGUAIS!
Então não há então solução uniforme pra duas formas que destoam tanto.


FAVELA: MEU QUILOMBO IV: CHEGA DE CHAGAS RACISTAS

Historicamente negados, massacrados, rejeitados, estuprados, perseguidos.
Anos a fio sofrendo e você quer que tudo seja esquecido...
Olhe as marcas nas minhas lembranças
Os reflexos em meus pés,
As chagas que entortam minhas mãos.
A tortura marca a alma e aviva os pesadelos.
Fomos adoecidos em nossas psiques,
O RACISMO DEFORMA MENTALIDADES.
Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos em conflitos.
Crises instauradas no passado e no presente corrompem nossos futuros.
Você não tem como saber o que estou falando,
Mas ao menos respeite-me.
Se não pode ajudar não atrapalhe
Estou me reerguendo de todos estes anos...
Anos que não podemos me esquecer.


FAVELA: MEU QUILOMBO V: ME REERGO

Não me peça pra esquecer as chacinas nos Quilombos,
Em Canudos,
Na Candelária,
No Cabula.
Não me peça pra esquecer Ambrósio, Claudia, Amarildo e Geovani,
Vocês estupraram minhas avós.
Deixaram mainha parir sozinha.
Espancaram meu pai até a morte.
Arrancaram meus irmãos e irmãs de mim.
Me tiraram da minha terra e endemonizaram minha cultura...


FAVELA: MEU QUILOMBO VI: NÃO ME ESQUEÇO-ME

Hoje eu me organizo na favela.
Sai do seu Cativeiro
Tenho minhas Roupas
Minhas Músicas
Minha Língua própria.
Vocês ainda perseguem meu povo e criticam minha estética
Mas noiz não queremos sua aprovação.
O que precisamos está no nosso coração
Nas nossas veias,
Na nossa pele,
No nosso crespo.
Na nossa Favela.
Ainda há muito a crescer
Muito a recuperar,
Mas nada que você possa dar, a não ser devolver.

FAVELA: MEU QUILOMBO VII: NOSSAS BELEZAS

Desfilamos nas Favelas nossas estéticas
Nossos narizes largos
Nossos Blacks
Dreads
Turbantes
Duros cabelos crespos
Trançados
Desenhados
Nas roupas curtas
Arrochadas,
Nos bermudões e roupas de marca
Nos batidões
Nas abas retas
Curvas
Nas nossas curvas
Músculos
Nos olhares
Nos grisalhos
Somos todos d’Oxum
Ouro vivos
Somo mais que as palavras podem explicitar
Mais que os números podem contar
Somos brilhos
Bantos, Nagôs, negritude em diversos tons de cor.
Nossas gírias,
Nossas gingas,
Nossas lutas,
Nossas glórias,
Nossas Marias são Nzingas,
Nossos Josés são Zumbis,
Somos Vida
Negras Vidas.
Noiz é humildade,
Nois é responsa,
Respeito,
Respaldo,
Resistência que se retroalimenta nas quebradas.
Em ajudas mútuas,
Em Solidariedade Orgânica,
Somos Samba,
Semba,
Forró,
Axé,
Soul,
Rap,
Hip Hop,
Reggae,
Afoxé,
Ijexá,
Agogô,
Berimbal,
Capoeira,
Bota na roda,
Desembola,
No trampo, em casa, na ginástica artística ou no jogo de bola.
No consultório, no Fórum,
Seja lá onde for,
Nóis Broca porque nóis FODA!!!

Sou Quilombo,
Sou Resistência Ancestral,
Sou a Força Negra em sua Completude mais Bela, Sou Favela!!!

Marcelo Marteluz de Jesus
Filho de Marinalva Santos de Jesus
Neto de Maria “Martinha” de Jesus
Sou Preto



RAMOS NEGROS.
NEGRO SER.


A ancestralidade nos une.

Nosso sangue grita negro.

Preta, a pele da o tom do cenário

Duros, os cabelos ostentam as coroas gloriosas africanas.

A ancestralidade nos faz nobre

A afrodescendencia nos mantém guerreir@s.

Nossas mães são nossas fontes.

A espiritualidade contida nas nossas raízes apontam para nossas belezas interiores.

Raça

Força

Resiliência

Superação

Amorosidade

Sabedoria.

Bom dia Pretas e Pretos

Família afrobrasileira.

Nossa luz é o nosso suor.

Nossas asas são nossa mente.

Nossas mentes a nossa libertação.

Força, fé e esperança.

Que Assim Seja!!!


Marcelo de Jesus

TURBANTE: COROA COM RAÍZES PROFUNDAS

Meu Turbante é coroa!
Herança Africana,
Minha marca Zumbi.
Nzinga Vive aqui.
Meu Turbante enraizado em meu Dread revela nossa Glória!
Meu Turbante revela, Filipa Luis Gama e Luiza Mahim,
Revela o Rei Ambrósio em mim.
Sou Rei de Ancestralidade.
Sou livre em minha Africanidade.
Sou Luz e Luta,
Resistência e Forte Fruta.
Trago Sementes de Valores Próprios
No Sangue Vermelho que pelas minha Filhas e pelos meus Filhos eu jorro.
Sou Raiz neste chão duro.
Sou Árvore neste céu, profundo.
Meus Dreads meus galhos.
Meu Turbante, a Coroa, a Copa.
Um Salve à minha Mãe Preta!
Dela herdei a Nobreza.
E ninguém pode tirar de mim a Glória da Realeza!!!!

Marcelo Marteluz de Jesus,

Filho de Dona Marinalva Santos de Jesus,
Neto de Dona Maria Marta!


SOU NEGRÍNDIO

Eu sou Zumbi
Eu sou Serigy
Sou a resistência na raiz

Da raiz aos dreads
Sou vermelhopreto
Sou eu mermo
Soul free
Ventos a zunir
Espalhando sementes de vidas pelos corações
Em/pelas minhas vestes
Minhas peles
Meus cabelos
Meus gracejos
Me reconheço muito mais do que dizem
Sou muito mais do que propagam
Me difamam por medo
Mas não preciso dos seus espelhos
Nem lhe faço apelos
Meus gritos são de guerra
São as vozes das revoluções
Das explosões dos nossos peitos
Pelas nossas veias
Em nossas consciências
Nosso tempo só não chegou porque nunca se foi
Sempre foi nosso tempo
Sempre é nosso tempo
Sempre será nosso tempo
Somos lindos por fora e por dentro
Na cor
Nagô
Tupinambá
Nas belas penas
Nas tranças
Danças
Sons
Vozes
Histórias
Deusxs
Estrelas
Somos a festa da realeza
Nobreza
Vaidade
Densidade e leveza
Somos resistência
Somos a revolução
Soul Negríndio

Marcelo de Jesus Arouca
Marteluz de Jesus, Negríndio com orgulho
Sim, Negríndio


Marcelo de Jesus


SOUL NEGRÍNDIO

Eu sou preto indígena
Sou negro no Índio
Sou Índio no negro
Sou eu mesmo
Negríndio arretado
Baiano virado
Vidrado em Amor
Amor pela vida
Negra vida
Índia vida
Resistente
Contente
Efervescente sente as grandes asas da liberdade
Que faz voar a mente
Que afirma a raiz 
Quase que esquecida por quase todxs.
E minha alma sorri feliz
Quando vejo minha pele assim
Sem esquecer meu branco
Mas enaltecendo minha identidade negada pela história mal contada
Identidade de glória
Negro
Índio
Eu Soul NegrÍndio!!!


Marcelo de Jesus Arouca 


NÃO QUERO PEDIDOS DE DESCULPAS, EXIJO REPARAÇÃO

Pra você que diz que o problema do racismo foi superado
Que diz que as coisas já estão boas
Que temos todxs as mesmas condições
Que é paranoia falar que a cor da pele é empecilho pra subir e crescer
Que não avança quem não quer, porque prefere sofrer
Que diz que reclamamos de barriga cheia
Que Joaquim Barbosa é a prova de que não precisamos de políticas de reparação
Que diz que nossos Blacks e Dreads são modismo
Que Não entende nada do que estou falando e trata com descaso tudo isso:
ESTUDE
SE LIGUE
OBSERVE
SE CONSCIENTIZE
E SAIA DO NOSSO CAMINHO
QUEREMOS PASSAR
QUEREMOS IGUALDADE REAL
POIS SOMOS REAIS
REALEZAS
E LEAIS À NOSSA NATUREZA
- HUMANA
ENTÃO NÃO FIQUE NO CAMINHO
NÃO ESTAMOS POR ACASO
NÃO ESTAMOS SEM SENTIDO
ESTAMOS REPLETOS DE RAZÃO
CANSADOS DA AFLIÇÃO
NOSSA HISTÓRIA PULSA QUENTE EM CADA CORAÇÃO
QUEREMOS O NOSSO LUGAR
E NADA NEM NINGUÉM PODERÁ NOS SEGURAR
COM A FORÇA DOS DEUSES EM NOSSOS MÚSCULOS E MENTES
SOMOS A SEMENTE DA REVOLUÇÃO!!!

"A escravidão é um estado histórico não superado."

Marcelo Marteluz de Jesus


DANDARA

Eu não a conhecia
Negaram-me esta parte da minha história
Podaram-me na raiz pr’eu não chegar aqui,
Cegaram-me pr’eu não ver a verdade daquele navio,
Pintaram-me pr’eu não reconhecer quem sou,
Mudaram as roupas dos dominadores nos livros de história
pr’eu não reconhecer naqueles carrascos os mesmos carrascos que hoje chicoteiam minhas costas.
Alienaram-me pr’eu não ver o que fizeram e fazem comigo.
Mas eu me rebelo, me elevo e levanto voo!!!
Não estancaram o sangue que segue jorrando
Herdei uma hemorragia que das entranhas grita em minha poesia.
Eis a ira de quem se ergue conscientemente usando a força a cada dia!
Disseram-me que a minha dor é a dor que dói em todo mundo.
Disseram-me que somos iguais,
Quiseram deixar-me confuso.
Disseram-me que se compadecem comigo
Disseram-me que sou caboclo, mas não índio.
Disseram-me que sou mula, que sou pardo...
Deram-me migalhas e disseram ser tudo o que têm para mim.
Fizeram de tudo pr’eu aceitar os sujos chãos duros, em noites frias, e me cobrir com furados vinténs jogados aos ninguéns por aí.
Pr’eu me contentar com o que lhes convém.
Juraram que a justiça é cega e as coisas são assim, porque assim são.
Falaram-me que fui pra favela por que eu quis.
Disseram-me que racismo é besteira e paranoia
Impuseram-me religiões e outras culturas estrangeiras
Afogando minha memória
Abafando a minha construída Glória
Tentando extinguir minha fogueira.
Não sou culpada por ser estuprada.
Não temos culpa pela evasão na escola,
Seus grilhões se camuflam em nossa carne,
Mas reconheço as suas garras em minhas costas.
Me culpabilizaram e me culpabilizam pela desgraça que eu sofria,
Que eu ainda sofro,
E que se depender deles, continuarei sofrendo.
Querem que briguemos com os nossos.
De nós querem roer até os ossos.
Fazem-nos achar que somos fracos e feios
Pela máxima de que os fins justificam os meios...

Negam nossa importância,
Imputam-nos impotências
Mas o progresso da humanidade advém da nossa elegância
Da nossa sabedoria
Da nossa força.
O oprimido é o pilar mor da humanidade,
Precisamos transformar nossa realidade.

Dandara renasceu em mim
Sou tão Dandara quanto Claudia
Sou sólido,
Leal ao meu povo,
Busco a disciplina da revolução pelo e com o povo.
Não me deem caridade
Não me estendam mãos enojadas
Que me veem como fraca.
Sou Frida e não me calo.
Sei o valor das minhas mãos e de cada calo que trago
Sou eficiente na virada.
Sou confiante em nossa vida, em nossa luta, em nossa jornada.
Sua hipocrisia me deixa cansada
Ouça esta que vos fala:
Sou mais Eu,
Sou Dandara!

Marcelo de Jesus Arouca

25 de dezembro de 2014



CAPOEIRA
As pernas crescem
A roda se abre
A ancestralidade chama
A resistência aflora
O suor negro
A história negra
Em cada canto
Ecoa o sangue vermelho
Da África brasileira.
Capoeira ! ! !
A beleza dos movimentos
Na ginga
Na vadiagem
Na roda a estética da resistência se mostra:
Poética
Viva
Forte
Sagrada...

Marteluz de Jesus

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